sexta-feira, 1 de abril de 2022

Ulonga como resolução de conflitos da Ucrânia e Rússia

 

Não existe nenhuma Nação que conseguiu resolver problemas de guerras com instrumentos bélicos, a não ser com diálogo. E no caso do problema em causa, seleccionamos “Ulonga” um ritual praticado em Angola na cultura dos Ovimbundu (Hanha), como contributo de resolução de conflitos da Ucrânia e Rússia.

Abordagem dessa temática exige um esforço muito grande, pelo facto de que o respectivo rito muitos conhecem mas poucos usam, apesar dos seus resultados benéficos.

O nosso objectivo é fazer com que “o conhecimento da cultura tradicional africana ajude a resolver problemas do fórum científico eurocêntrico”, no sentido de que o diálogo seja um instrumento adequado para reconciliação (okulitumbika) e construção da paz (ombembwa) de qualquer Nação/Estado, tendo em conta os benefícios que o mesmo produz.

 Diante desses conflitos, entendemos que os problemas da Ucrânia e Rússia estão associados aos problemas “étnico-culturais”. Para além disso, a investigação nos orienta que, a Norte da Ucrânia vive uma comunidade russa que tem vindo a ser sacrificada pelos ucranianos impondo regras que contrariam os hábitos e costumes.

Prova disso é quando Putin acusou o governo ucraniano de genocídio contra ucranianos de origem étnica russa que vivem nas regiões separáveis de Donetsk e Luhansk, em que alegou que a invasão tenta "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia, para tal facto servir de justificativa a uma eventual deposição do actual governo ucraniano.

Neste quesito, Ulonga (Ulandu) vai servir como um instrumento de comunicação para paz e reconciliação, porque é aí onde se apresenta discussão para sessar fogo, através de propostas que protegem o bem maior (vida) das populações.

Se bem verificarmos o conceito do Ulonga, daremos conta que consiste em apresentar relatórios, no intercâmbio de palavras entre duas ou mais pessoas, envolta de um encontro tanto sócio-familiar, como comunitário, julgamentos tradicionais, encontros políticos e diplomáticos etc., narrando os detalhes de forma retórica e tudo o que tenha acontecido, desde o primeiro momento em que estiveram juntos até ao que segue. Portanto, “Ulonga” é a narração dos assuntos do passado e do presente, através do histórico social e de tantos outros elementos culturais não comum a muitos povos angolanos.

Se Ulonga é uma conversa entre duas ou mais pessoas que relatam os factos ocorridos para ultrapassar determinados acontecimentos, então pode ser usada numa reunião diplomática, para resolver problemas entre Estados; pois, tal facto já tem vindo acontecer quando cada membro ou organização nacional ou internacional apresenta o seu relatório de reunião anterior, sendo que na parte final (okwimba Ulonga) dá-se aplausos para aprovar o relatório. Podemos até dar exemplo do acordo de Bicesse que deu fim da guerra em Angola tendo resultado a paz efectiva.

Um outro momento que marca o término do Ulonga é Ohango (diversos), momento este, onde cada participante tem a liberdade de expor algo de forma espontânea, conversando com o seu vizinho (pessoa ao lado) assuntos que lhes interessam, assim como perguntar o que não foi claro durante a narração (ulandu). Daí a máxima do provérbio: tchipwila ou vipwila vo hango, ulonga ukemba. In Kanivete, Otchoto (2020).

           Contudo, pensamos que para resolver o problema da Ucrânia e da Rússia é preciso um diálogo entre os dois Estados e não existir outras forças, porque a (terceira pessoa) estraga, tal como no Ulonga acontece, onde falam apenas duas pessoas, enquanto as demais submetem-se apenas a ouvir. No Ulonga, falam duas pessoas que representam as duas famílias ou grupos, enquanto as demais pessoas escutam, para evitar alguns erros, o que pode resultar numa multa pesada instituída tradicionalmente.

De realçar que essa é apenas a introdução de um Artigo Científico que está em desenvolvimento, que resulta de uma investigação exaustiva pouco comum na academia e brevemente publicaremos nas páginas oficiais.

A pergunta que nos veio atona é: o quê os africanos têm como contributo para resolver os problemas dos europeus?

 

Graciano Catumbela

Jornalista e escritor

Activista social e literário

01.04.2022

Revisto por: Quilson dos Santos Woityla

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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